Migalhas em banquete

Éfi.
2 min readJan 25, 2023

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Não é segredo para ninguém que ter foco é o segredo. Foco exige paciência, exige esforço e exige o que talvez tenha sido algo extremamente difícil pra mim: escolher uma coisa só. Isso é focar, não é? Como é difícil!

O exercício de autocrítica, a honestidade intelectual, o nivelamento de habilidades e afinidades, o esquadrinhamento de competências… quando tento esgotar, na minha autoanálise, a seleção do que eu sei de fato e do que eu só sei de boca, do que eu sei na prática e do que eu sei dessa prática que possa ser esquematizado minimamente para ser aplicado, quando eu peneiro, esmigalho, esmiuço, cato… eu tenho a ofegante e cansativa impressão de que não resta quase nada a aproveitar.

Ok, eu concordo, parece que minhas palavras carregam um sentimento de lamento, desânimo, desapontamento e, num ponto extremo e ligeiro (com certeza eu não me demoraria lá) de síndrome de impostor.

Eu olho ao meu redor e só vejo o que eu não fiz. O tempo que perdi. A capacitação que não busquei. A atualização que não me interessou. O curso on-line, barato e objetivo que não me atraiu.

Agora, minha cabeça, essa que talvez muitos de vocês conheçam, insiste em tentar processar tudo isso de uma única vez e se frustra. Frusta porque eu sou uma só. Frustra porque o dia tem apenas 24 horas e meu corpo reclama. Frustra porque minha mente tem mecanismos de absorção só dela e eu fico nesse meio, perdida, sem saber se realmente ela está captando o que precisa ou se está tão perdida quanto eu.

Mas há vantagens: tudo parece sempre sem forma e vazio e, de repente, no meio do nada, no ermo, num momento qualquer, a mágica acontece. Essa mesma mente que me deixa tão aflita, decifra, compreende e até replica sem dificuldade tudo que está absorvendo… é quando meu corpo descansa e meu ânimo retorna.

Em meio a esses altos e baixos é que encaro a situação que me foi imposta (e fico contrariada por isso, por não ter tido o controle) (e eu me engano, porque na verdade eu sempre tive o controle, mas optei por sentar no sofá todas as noites, por anos a fio, e não fazer nada além do meu bel-prazer); essa situação que me sacode de um lado e sopra doce aos meus ouvidos do outro: vá e comece; faça, você é capaz, tenha calma e não pare.

Focar é transformar migalhas em banquete. Sente-se fome pelo caminho. Parece que aquele celeiro farto nunca será alcançado. Estou indo pelo lado correto? Não enxergo nada de onde estou. Há luz lá? Há vida?

Focar é dolorido. Focar, para mim, é talvez perder o controle de todo o resto que não está no foco e isso me desnorteia e me enfraquece em certa medida.

Avanço, afinal. Tateando e tentando dar pequenos passos… inseguros, desconfiados, mas firmes.

Fabiana, querida, há muito o que aprender, mas não tudo. Contente-se.

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Éfi.

A mesma, porém outra todos dias - graças à misericórdia.